Vencedor do Prêmio Nobel critica: “Negócio Trump” está desmoronando

Autor: Paul Krugman ( Paul Krugman )

Título original:The Trump Trade is Unraveling

Tradução e organização: BitpushNews

Paul Krugman, vencedor do Prémio Nobel de Economia em 2008 e colunista do The New York Times, é conhecido pela sua posição keynesiana e análise incisiva de políticas públicas. Ele é hábil em traduzir mecanismos económicos complexos em percepções sociais claras e nunca evita afirmações políticas controversas.

No seu mais recente artigo de 24 de novembro de 2025, Paul Krugman apresenta uma opinião contundente:

O Bitcoin evoluiu para uma “Trump Trade”, estando o seu destino profundamente atrelado à influência política de Trump. Assim, a recente queda acentuada do preço do Bitcoin, na sua visão, não é um movimento isolado do mercado, mas sim um reflexo direto do declínio do poder político e da influência de Trump nos mercados financeiros.

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Segue o texto principal:

Para que serve realmente o Bitcoin? Não é uma moeda — ou seja, não é um meio de pagamento utilizável em transações.

Não serve como proteção contra a inflação.

Também não serve como proteção contra riscos financeiros — pelo contrário, o preço do Bitcoin costuma oscilar na mesma direção das ações de empresas de IA que têm impulsionado o mercado de ações recentemente, mas com ainda mais volatilidade.

Se existe um caso de uso para o Bitcoin, o seu principal papel é ocultar o fluxo de fundos: a tecnologia criptográfica facilita transações anónimas sem deixar rasto em papel. Nem todas essas transações são ilegais, mas muitas de facto são.

Vale mencionar que o anonimato não só incentiva atividades criminosas entre utilizadores de cripto, como também os torna mais vulneráveis a serem alvo de crimes. Se alguém tem a chave do Bitcoin — o código que o desbloqueia —, não importa quem seja ou como a obteve, o Bitcoin pertence-lhe. Nesse sentido, obter uma chave de Bitcoin é como receber um saco cheio de notas de cem dólares.

Esta característica já provocou uma onda de raptos direcionados a grandes investidores em criptomoedas, com criminosos a exigirem que as vítimas entreguem as suas chaves.

Na verdade, esses raptos tornaram-se tão comuns que, numa importante conferência recente sobre Bitcoin, foi organizado um workshop de “anti-rapto” de um dia inteiro, onde os participantes aprenderam, por exemplo, a morder fitas de rapto com os dentes.

Além de fomentar o crime, o Bitcoin tornou-se cada vez mais uma ferramenta de pilhagem financeira. As criptomoedas — e pior ainda, ações de empresas que compram criptomoedas com dinheiro emprestado — são amplamente promovidas a investidores inexperientes que ainda não percebem os riscos. Quando o Bitcoin sobe, podem lucrar, mas a maioria provavelmente não compreende o tamanho das perdas que pode sofrer numa queda.

Recentemente, as criptomoedas caíram acentuadamente. Embora o Bitcoin tenha tido um desempenho melhor do que moedas menores e menos conhecidas, desde o final de outubro caiu cerca de 25%.

O Bitcoin pode até recuperar, pois não é apenas um ativo, mas também uma espécie de fé.

Quando conversei com Hasan Minhaj (um conhecido apresentador e comentador político norte-americano) sobre o Bitcoin, ele respondeu imediatamente às minhas críticas: "Não quero virar meme, os crentes do Bitcoin já estão de olho em mim."

Esta característica de fé faz com que o Bitcoin consiga sempre recuperar de escândalos e quedas que destruiriam investimentos comuns, pois os crentes fiéis apenas reforçam o seu compromisso perante as quedas de preço. Talvez seja o caso novamente desta vez.

Mas pode ser diferente — porque atualmente o Bitcoin tornou-se essencialmente uma “Trump Trade”. Após a vitória de Trump no ano passado, o preço do Bitcoin disparou, e a recente queda coincidiu com uma série de reveses políticos para Trump.

Por que chamá-lo de Trump Trade?

Em parte porque, após a sua família receber subornos substanciais da indústria cripto, Trump tem retribuído ao setor com políticas pró-cripto.

Vale notar que ele já assinou uma ordem executiva permitindo que cidadãos americanos comuns invistam os seus fundos de reforma 401(k) em ativos cripto — mesmo que esses investidores muitas vezes não compreendam os riscos envolvidos.

De forma mais ampla, como já referi, a tecnologia cripto tornou-se cada vez mais uma ferramenta de pilhagem financeira, e o governo Trump foi extremamente permissivo com tais práticas. Basta perguntar a Changpeng Zhao, fundador da Binance — condenado por violar as leis anti-branqueamento de capitais dos EUA, mas depois perdoado por Trump.

O atual governo tem-se esforçado para desmantelar instituições criadas após a crise financeira de 2008 para proteger investidores e a segurança do mercado, como o Consumer Financial Protection Bureau.

O secretário do Tesouro, Scott Besant, e outros membros e aliados do governo Trump (incluindo alguns do Federal Reserve), também têm trabalhado arduamente para enfraquecer a regulação bancária — regulações estas que foram criadas para limitar os comportamentos de alto risco que levaram à crise de 2008.

Tudo isto é prejudicial para investidores de retalho e para a estabilidade financeira, mas beneficia especuladores financeiros como os promotores do Bitcoin.

Como devemos então interpretar a recente queda do Bitcoin? Podemos vê-la como o desmoronamento da “Trump Trade”. Embora Trump ainda tente retribuir à indústria que enriqueceu a sua família, e os seus aliados ainda tentem criar um ambiente propício para todo o tipo de pilhagem, o seu poder está claramente em declínio. Assim, o preço do Bitcoin, que se tornou essencialmente uma aposta no trumpismo, caiu em resposta.

Por que Trump de repente parece estar em declínio? Desde a primavera, as sondagens têm-lhe dado avaliações muito baixas, mas no último mês, a sua taxa líquida de apoio caiu significativamente.

Apesar de ter acabado de declarar que tem o “maior apoio da sua carreira política” — ninguém sabe a que sondagem se refere —, as grandes vitórias dos democratas na Virgínia e em Nova Jérsia a 4 de novembro dissiparam qualquer dúvida sobre os resultados extremamente desfavoráveis das sondagens.

Estas derrotas eleitorais abalaram a disposição dos republicanos no Congresso de seguir Trump cegamente. Entretanto, o contínuo desenvolvimento do caso da relação de Trump com Jeffrey Epstein está a desestabilizar a base do MAGA.

Muitos analistas políticos talvez não percebam plenamente: muitos apoiantes acreditavam firmemente que Trump estava a proteger o mundo dos pedófilos democratas, e quando começam a perceber que podem ter confundido o herói com o vilão, o choque interno é enorme.

É forçado associar as dificuldades políticas de Trump ao preço das criptomoedas? Não. Como Josh Marshall costuma enfatizar — o poder é uno. Um Trump enfraquecido terá menos capacidade de impor a sua vontade em todas as frentes, incluindo os esforços para impulsionar a indústria cripto.

Irei explorar mais profundamente a relação entre política e cripto em artigos futuros. Por agora, quero apenas reiterar:

O Bitcoin tornou-se uma Trump Trade, e a queda do seu preço é um indicador do declínio do controlo de Trump sobre o Partido Republicano.

A música parou, o colapso chegou.